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sábado, 8 de outubro de 2011

Felipe e Ana

Ninguém hoje irá fazer
Para ser certo
No rumo da mudança?
E ninguém irá fazer
Para não ser certo?

Felipe viu a luz, puxou de uma vez as cortinhas
Descalço no chão e espreguiçou-se
Agora Ana relaciona sua poesia
Ao lado da Universidade no diário de campo

Felipe e Ana entraram em um mesmo ônibus no dia seguinte
E sentados ao lado do outro se conheceram
O caminho do trabalho do Felipe diminuiu
“A praia é legal e vou muito caminhar pela manhã”

Compromisso marcado em dia de semana
“Eu estou atrasado”, “não pretendo faltar hoje”
Ana feliz perguntou sobre sua casa
Queria saber mais sobre o “embaçado”
E o Felipe, empolgado, só pensava em impressionar
“Patrocinado pela Pena, eu vou pro mar”

Felipe e Ana desceram juntos
Caminharam e alongaram na areia
O Felipe apontava para as ondas
Enquanto a Ana falava sobre Cancioneiro

No outro dia já era sábado
A Ana não tinha reunião e o Felipe treino
A praça não era tão verde, mas Felipe nem reparou
O encontro estava sendo perfeito

Felipe e Ana não eram iguais
Ela era professora e ele tinha dezenove
Ele tinha patrocínio e conhecia o Havaí
E ela nunca tinha saído do Estado.

Ele ouvia Jack Johnson e Elvis Costello
Usava seda e boné, tinha tattoo e cordão
E a Ana lia Dhyana de pijama
E pintava rios 16x20 em tela fina

Ela escrevia poemas sobre o Dragão do Mar
Além de sonhos e profissões
E o Felipe cuidava do cabelo
Aluguel, comida, doces, cervejas

E nessas diferenças criou-se um acerto
Uma saudade de chorar
Eles telefonavam todo dia
E a saudade não sumia

Felipe e Ana fizeram meditação, escalada
Natação, futebol e foram para o Havaí
A Ana recitava no ouvido do Felipe
Inquietude e ignorância são erradicadas com amor

Ele a ensinou a pescar, fez pedra nadar
Não parou de voar
E ela publicou o primeiro livro
No dia em que ele escreveu o primeiro soneto.

Conheceram os sogros um do outro
Festejaram o casamento
E os amigos sorriam de seus exageros
O limite de um era a potencialidade do outro

Deixaram suas casas pouco tempo depois
Quando os prêmios aumentaram de valor
Decidiram não arriscar, trabalharam firmes
Temiam o desassossego da dependência

Felipe e Ana estão em Fortaleza
Os nossos passeios são sempre demorados
Mas não teremos muita escolha
Agora a Ana tem enjôo e desejos toda noite

E ninguém hoje irá fazer
Para ser certo
No rumo da mudança?
E ninguém irá fazer
Para não ser certo?


Isaac Medeiros
Licença Creative Commons
A obra Felipe e Ana de Isaac Medeiros foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
Com base na obra disponível em intellegere-verbatim.blogspot.com.

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